segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Técnicas de Redação Online – Aula 1/9

1) No início, o jornalismo online importou todas as técnicas de redação usadas em jornais impressos, na rádio e na televisão.

A transposição de regras fez com que técnicas como a da pirâmide invertida passassem a ser usadas em textos online, especialmente nos portais noticiosos e nas versões online de jornais impressos.

A pirâmide invertida é uma técnica desenvolvia pelo jornalismo convencional por meio da qual a parte mais atual, relevante ou criativa encabeça o texto.

A pirâmide concentra suas atenções na resposta das perguntas básicas de uma noticia: o quê, quando, como, porquê e quem.

A teoria da pirâmide foi criada pelos jornalistas na época da Guerra Civil norte-americana, entre 1861 e 1865, quando as notícias eram transmitidas por telégrafo e nem sempre podiam ser passadas completas, porque as linhas de transmissão eram cortadas.

Até então se usava na imprensa o estilo cronológico, onde o mais recente era contado por último, seguindo as técnicas literárias do conto, novela ou romance.

A partir da parte considerada mais importante, que seria a base da pirâmide, o texto passa a detalhar todos os demais aspetos da notícia, preocupando-se em narrar os fatos e interpretar suas conseqüências. A pirâmide vai do mais importante para o menos importante.

Esta teoria foi desenvolvida por estudiosos do jornalismo com três objetivos:
a)Satisfazer a curiosidade imediata dos leitores mais apressados;
b)Induzir os leitores a continuar lendo o texto, a partir do interesse despertado pelas frases iniciais (lead e sub-lead);
c)Permitir o corte da notícia em que ela perda seu sentido e importância, em caso de não haver espaço para publicação do texto na íntegra.

2) Mas depois com o crescimento dos blogs e o desenvolvimento da multimídia, surgiram novos estudos visando adaptar a técnica da pirâmide invertida à narrativa na web.

Aí surgiram várias correntes:

a)Os que defendem a sua manutenção alegando que a noticia é noticia tanto a mídia impressa como na Web;
b)Os que rejeitam o uso da pirâmide, especialmente nos blogs, porque a narrativa neste tipo de página web se aproxima mais do estilo contador de historias, mais informal. Além disso, na web não há limitações de espaço, portanto não existe o risco das matérias serem cortadas “pelo pé” , perdendo sentido;
c)Os que inventaram a tese da pirâmide deitada, ou seja, uma combinação dos das duas técnicas de narrrativa. Na página de abertura, a noticia seria construída seguindo o esquema da pirâmide mas depois nos links, usaria o sistema narrativo tipo contador de histórias.



Exercícios

1) Identifique nos dois textos abaixo, qual o que usa pirâmide e qual o que não usa. É essencial dizer o porquê num texto de 150 palavras e que será publicado no blog do aluno, até o final da aula.

Texto A

OAB apóia criação de Conselho de Jornalistas

Brasília - O presidente nacional da OAB, Roberto Busato, manifestou hoje apoio à iniciativa do governo de enviar ao Congresso Nacional projeto de lei criando o Conselho Federal de Jornalismo. Segundo Busato, assim como ocorre com a advocacia, que tem o seu Conselho Federal da OAB, os jornalistas poderão dispor de instrumentos legais eficazes para fiscalizar o exercício profissional e os cursos de comunicação social. Busato não vê risco de cerceamento à liberdade de expressão, uma vez que será dado ao próprio jornalista - e não ao Estado - o papel fiscalizador.
"Ao que me consta, esta é uma discussão antiga e uma aspiração dos jornalistas, manifestada em vários congressos da classe", afirmou Busato. "Como está hoje, a Federação Nacional dos Jornalistas, cuja composição é estritamente sindical, não consegue impor seu Código de Ética nem fiscalizar eficazmente o exercício da profissão. Com o Conselho, que tal como a OAB será um órgão independente, a profissão terá uma nova dimensão e o jornalista poderá trabalhar com mais liberdade, inclusive participando mais efetivamente das discussões em torno dos rumos da imprensa no País."

Texto B

A selvageria, que é companheira permanente do brasileiro, parece disposta a fazer escândalo periodicamente para que ninguém se esqueça de que ela existe e que é forte e muito disseminada. (...) O sistema policial brasileiro continua sendo precário, contaminado. O aparelho judicial move-se com exasperante lentidão. Enfim; a “honra” do Estado brasileiro não será lavada apenas pelas prisões dos responsáveis pela chacina da vez. (Clóvis Rossi).

Os exercícios 2 e 3 serão preenchidos em folha separada.

Texto de referência:

Invertida ou deitada

Texto extraído da resenha de Diego Moraes e Andréia Rangel sobre o livro Webjornalismo: Da Pirâmide invertida à pirâmide deitada, do proferssor português João Canavilhas. (http://artefato.digital.jor.br/index.php?option=com_content&task=view&id=1611&Itemid=127)

Alguns leitores de notícias na web querem informações enxutas, de maneira a compreender rapidamente somente o essencial. Para eles, o modelo da pirâmide invertida pode ser a mais eficaz, porque concentra os dados mais relevantes logo no primeiro parágrafo (o lead) e traz informações complementares nos próximos dois ou três parágrafos. Em um texto com menos de 15 linhas, o leitor pôde ter acesso aos elementos essenciais da informação.

Mas essa técnica está muito atrelada a um jornalismo limitado pelas características do suporte que utiliza: o papel. Usar a técnica da pirâmide invertida na web é cercear o webjornalismo, segundo Canavilhas, de uma das suas potencialidades mais interessantes: a adoção de uma arquitetura noticiosa aberta e de livre navegação. Na internet, em vez da notícia fechada entre as quatro margens de uma página, o jornalista pode oferecer novos horizontes imediatos de leitura, através de ligações entre pequenos textos e outros elementos de mídia organizados em camadas de informação.

Essa arquitetura pode ser usada não só em jornalismo, mas também em trabalhos acadêmicos, por exemplo. Alguns autores dividem essa arquitetura em seis camadas: na primeira, o resumo do assunto; em seguida, versões alargadas de alguns elementos dominantes no texto; a terceira camada traz mais informações sobre vários tipos do assunto em análise; o quarto nível remete a dados auxiliares ao que há de essencial no campo da investigação acadêmica; o quinto nível traz propostas para discussão dos temas nas aulas; e a sexta camada expõe as reações dos leitores e as discussões com o autor.

João Canavilhas realizou uma amostra para aferir de que forma o receptor conduz a leitura de uma reportagem na internet. Preparou-se uma notícia com dez páginas ligadas por links espalhados pelo texto. Dos 39 leitores que participaram da pesquisa, 76,5% não se limitaram à reportagem principal e acessaram o segundo nível, pelo Link embutido no texto.

Deste grupo, 57,7% passaram para o terceiro nível da notícia, seguindo o único link embutido no segundo texto. No outro texto de segundo nível, 67,6% dos utilizadores passaram para o link seguinte.
Dos 39 leitores, 23% optaram por uma rotina de leitura por nível: seguem o link no local onde está inserido, regressando depois ao texto inicial. Mas 77% optaram por um percurso de leitura próprio, enquanto 11% seguiram um percurso idêntico, com 11 passos iguais.

A conclusão foi que, com a possibilidade do hiperlink, o produtor de conteúdo para web deve pensar novas maneiras de manipular as informações que chegam ao leitor, de maneira que este seja estimulado a permanecer o maior tempo possível na página de determinado meio de comunicação. O trabalho de redação implica lidar com duas variáveis: a dimensão e a estrutura da notícia.

Compreende-se que as prioridades do jornalista da imprensa em papel sejam diferentes das prioridades do webjornalista: enquanto o primeiro dá primazia à dimensão do texto, o segundo deve centrar a sua atenção na estrutura da notícia, uma vez que o espaço é tendencialmente ilimidato.

Se, por um lado, existe o preconceito de que o leitor de notícias pela internet não tem tempo a perder e exige notícias curtas, rápidas, com palavras simples e de fácil compreensão, por outro lado cresce a percepção de que o público da web não pode ser visto de maneira tão homogenia. E a arquitetura possível de ser utilizada nos browsers permite que os veículos atendam a perfis diferentes de leitores em um mesmo texto – ao contrário do jornalismo impresso ou de radiodifusão.

No mesmo webtexto, o leitor pode obter informações resumidas, com o essencial para compreender a notícia, bem como elementos de aprofundamento, listados em hiperlinks, de modo a permitir que o utilizador receba o maior número de informações disponíveis a respeito do tema.

Vantajosa nesse ponto, a estrutura com espaço ilimitado na internet, no entanto, exige um processo de produção mais trabalhoso. Enquanto no papel o leitor tem em mãos exatamente a informação disponível, na internet ele pode procurar sempre mais sobre determinado assunto. E, para não perder a audiência para outro site, o produtor de conteúdo deve estar preparado para suprir essa sede de informações.

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